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“Estamos em 2021 e a popstar mais falada do mundo é Britney Spears.” TIME publica artigo sobre o Framing Britney Spears


Diana

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[TRADUÇÃO – Diana (fórum Rebellion). Se reproduzir, credite]:

”O ano é 2021 e a popstar mais falada no mundo é Britney Spears. Sim, a mesma Britney Spears que não lança um álbum desde o mandato do Obama. A mesma Britney Spears que não fez uma turnê desde 2018. A mesma Britney Spears, que, dois anos atrás anunciou um “hiato indefinito de trabalho” e cancelou uma residência em Las Vegas semanas antes de começar. Na verdade, um modo de se explicar a ressurgência do interesse com a Britney se deve ao longo período de tempo em que ela se encontra fora das manchetes. 

Especificamente, ela de repente se tornou ubíqua na cultura pop – em manchetes, nas redes sociais e em múltiplos quadros do SNL – graças ao novo documentário chamado Framing Britney Spears, que está disponível em streaming pela FX no Hulu. Dirigido por Samantha Stark como parte da série The New York Times Presents, oferece uma cronologia da carreira de Spears, desde os tempos do Clube do Mickey até os seus isolados dias de hoje, com foco na tutela que foi estabelecida em 2008, que dá ao seu pai Jamie Spears controle sob suas finanças e carreira.

Mesmo que não seja polêmico, o argumento do filme é claro. Como uma legião de fãs que se tornaram ativistas que passaram anos se movimentando dizem com tanta avidez: #FreeBritney.

O grito dessas palavras se espalhou desde a estreia do documentário no dia 05 de Fevereiro, e o movimento para liberar a performer e mãe de 39 anos está ganhando força rapidamente.

Veículos midiáticos, bem como comediantes como Sarah Silverman, expressaram arrependimento pelo modo como a trataram. O seu ex-namorado Justin Timberlake – que Stark enfoca no documentário o modo como ele manipulou a narrativa ao redor do término deles – pediu desculpas não somente para Spears, mas também para Janet Jackson, a qual sofreu um impacto enorme em sua carreira após ele expor o seu mamilo em um incidente notório no Super Bowl de 2004. Em 11 de Fevereiro, a juíza confirmou que Jamie Spears teria que dividir seus deveres como tutor com uma terceira parte, em uma parceria que irá presumivelmente preveni-lo de ter poder unilateral sob sua filha. 

Está acontecendo uma correção emocionante e que há muito devia ter acontecido com o comportamento casualmente cruel feito com uma mulher que sofreu abertamente com objetificação sexual, vigilância constante dos paparazzi, escrutínio midiático sem tamanho e saúde mental. Spears não é o único espectro da virada feminina do milênio que sofreu com uma grande reconsideração pública recentemente. Poucos dias depois da estreia de Framing Britney Spears, a atriz de Buffy: A Caçadora de Vampiros e Angel, Charisma Carpenter se abriu sobre o que ela chama de abuso de poder por parte do criador do show, Josh Whedon, tocando em uma ferida aberta pelos fãs há muito tempo, que ouviam sobre o comportamento tóxico de Whedon por anos, e que haviam tido Buffy como um exemplo de empoderamento feminino há alguns anos. 

Essa reavaliação não é prevista para terminar tão cedo. Em Janeiro, as estrelas de Sex And the City (menos Kim Cattrall), a série televisiva mais influente no mercado feminino do final dos anos 90 e começo dos anos 2000, anunciou que um revival está sendo trabalhado para a HBO Max. 

Mesmo ainda sendo uma referência cultural, a série ficou cada vez mais controversa desde o seu final em 2004, com o movimento poderoso sobre inclusão em Hollywood coloca um holofote não muito lisonjeiro na sua versão extremamente branca de Nova Iorque, além do contraste entre a queda econômica desde 2008 e a visão consumista das personagens. 

Queira você atribuir isso ao ciclo da nostalgia dos 20 anos, a uma nova onda do feminismo ou ambos, essas lembranças de um passado recente somam a reflexão de como a cultura pop tratou as mulheres uma geração atrás. Era uma era de franqueza sem precedentes ao redor da sexualidade feminina, influenciada pelo adverso mas comumente sobreposto conceito de mudança nos tempos, com a terceira onda do feminismo – que dava ênfase na individualidade e positividade sexual – e no pós feminismo, ou a presunção de que a igualdade havia sido alcançada, até onde se dava para ver. 

As boas notícias são de que os antigos estigmas sobre feminilidade, trabalho sexual e animosidade da cultura pop decaíram. As boas notícias? Muitas mulheres sentiram a pressão de ser perfeitas em tudo – serem totalmente atualizadas em suas carreiras e satisfeitas seus relacionamentos, mas também deusas com o abdômen perfeito e uma sensualidade que trazia deleite e as colocava como deusas com maquiagem perfeita. (Pausa para a Oprah entrar no palco ao som de “I’m Every Woman”). 

Ao mesmo tempo, em meio a uma economia crescente, o êxtase do poder de compra feminino poderia diminuir o escrutínio do que estava sendo vendido para as mulheres, desde sapatos de milhares de dólares e implantes de silicone até tabloides com popstars adolescentes com crop-tops. E também havia a tendência do feminismo branco de classe média em ignorar milhões de mulheres que não estavam em uma posição de comprar o caminho e estilo de vida delas para a auto aceitação. Em 2021, as políticas de gênero daqueles tão conhecidos como anos pós feministas podem soar meio pré históricos – assim como uma nova visão sobre eles atualmente é saudável. 

Mais do que apenas lutas internas geracionais, essa conversa é uma maneira de aprofundar nossa compreensão do passado e aguçar nossas prioridades no presente. (...)

Muitos serviram como talismãs para fãs femininas em uma sociedade sexista. Mas a resposta que o público teve a tais talismãs foi confusa e sem coerência. Olhávamos para essas mulheres porque elas eram poderosas e confiantes ou porque eram bonitas e ricas? Ou ambas as coisas? Era normal as mulheres contorcerem a si próprias (fisicamente ou não) para emular esses novos ícones quase feministas? Respondemos com tanta Schadenfreude [termo alemão para alegria com a desgraça alheia] quando mulheres muito jovens e muito famosas como Spears, Amy Winehouse ou Lindsay Lohan revelaram-se, sob o brilho constante de flashes, menos do que invencíveis? Essas perguntas são muito mais antigas do que o documentário Framing Britney Spears. A jornalista Ariel Levy escreveu o primeiro rascunho em seu livro best seller de 2005, Female Chauvinist Pigs: Women and the Rise of Raunch Culture, que funde reportagem e polêmica para argumentar que a cultura supostamente positiva do sexo era principalmente usada apenas para alistar mulheres em sua própria objetificação.

É um livro importante, mas cujo desinteresse em classe, raça ou raízes sistêmicas das escolhas das mulheres não envelheceu bem. A consciência feminista e a conversa cultural em geral mudaram nos últimos 16 anos. As mídias sociais deram às vozes marginalizadas uma plataforma maior, enquanto a intersetorialidade - a ideia de que todos os aspectos da identidade de uma pessoa se combinam para formar uma matriz de privilégios e opressões - se filtrou do discurso acadêmico e foi para o mainstream. Dois pontos de virada foram o colapso de Spears nos auge da fama e a morte de Amy Winehouse em 2011, tragédias que revelaram quanto danos anos os anos de perseguição, objetificação e ridicularização poderiam causar a uma jovem. Outro foi o movimento “Marcha das Vadias” do início da década de 2010, que trouxe mulheres para as ruas, muitas vezes quase sem roupa, para protestar contra um sistema legal que culpava as vítimas de estupro em vez de seus assediadores. Quando algumas feministas negras criticaram a Marcha das Vadias, apontando que as mulheres negras eram tratadas como objetos sexuais há séculos e não tinham o luxo de “recuperar” essa identidade, um acerto de contas se seguiu sobre a política racial do feminismo sexo positivo.

Duas décadas depois, parece óbvio que uma maneira bastante eficaz de desencorajar a autoobjetificação das mulheres é libertar seus corpos, histórias e personas dos homens que se autointitulam donos de tais “propriedades”. Os esforços para fazer exatamente isso tiveram um aumento desde a ascensão do movimento #MeToo em 2017, que perfurou a fantasia pós-feminista de que a igualdade de gênero e a soberania sexual das mulheres já eram a norma na indústria do entretenimento (ou em qualquer local de trabalho). E na última década, embora o progresso tenha estado longe de ser constante e as dificuldades tenham se mostrado indescritíveis, as mulheres aumentaram lentamente sua presença atrás da câmera como escritoras, diretoras e produtoras.

Também vale ressaltar, pelo menos para os propósitos dessa conversa, o fato de quantas das representações culturalmente mais populares de mulheres no cinema e na TV durante esses anos também foram criadas e dirigidas por mulheres, de Michaela Coel a Chloé Zhao, Shonda Rhimes a Céline Sciamma. Nas piadas grosseiras de “Missão Madrinha de Casamento” e “Broad City”, bem como no revisionismo do strip-club de “As Golpistas” e “P-Valley”, criadoras desafiaram a ideia de que o humor pesado e o conteúdo sexualmente explícito devem atender aos gostos patriarcais. Pop tornou-se o domínio das mulheres – Rihanna, Taylor Swift, Lady Gaga, Beyoncé – com perfis públicos que se assemelham mais com Madonna do início dos anos 90 do que Britney nos meados dos anos 2000, mantendo um controle rigoroso sobre sua imagem, assumindo os papéis de diretora, produtora, criadora e afins.

No caso de Spears, é algo muito bom estarmos finalmente falando sobre a objetificação, infantilização, manipulação, ridicularização e invasão de privacidade que ela sofreu - e sobre nossa própria cumplicidade nesse sofrimento [que ela passou]. Mas isso não significa que devemos nos parabenizar por finalmente mostramos a essa mulher a empatia que ela sempre mereceu. Também não devemos ficar muito animados sobre o quão longe chegamos, como uma cultura, desde os dias de auge do Perez Hilton e US Weekly. Como muitas veteranas do movimento tem notado, a tração que o feminismo tem ganhando dentro da esfera cultural na última década tem raramente se estendido para a política, onde, por exemplo: Roe v. Wade (caso judicial pelo qual a Suprema Corte dos Estados Unidos reconheceu o direito ao aborto ou interrupção voluntária da gravidez) está sob sérias ameaças; casos de estupro ainda não são terminados em punição; e um número desproporcionalmente alto de mães solteiras vivem em pobreza. Se tirarmos apenas uma lição de Framing Britney Spears, deve ser que o que se passa por progresso em uma era está fadado a parecer diferente na próxima geração.”

Ultimo parágrafo traduzido por @Passenger

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11 minutos atrás, Diana disse:

Postei a primeira parte 

Vou editando aos poucos pra vcs irem lendo pq o artigo é GIGANTE 

Amg se quiser posso te ajudar pegando ali os três últimos parágrafos. Como sou meio lentinho daqui pra que eu termine já deve ser o tempo que tu traduz os anteriores

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11 minutos atrás, Passenger disse:

Amg se quiser posso te ajudar pegando ali os três últimos parágrafos. Como sou meio lentinho daqui pra que eu termine já deve ser o tempo que tu traduz os anteriores

Amigo tem uns parágrafos q n falam sobre ela, aí vou pular pra adiantar 

Mas valeu 

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