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Entrevista com Erin Lee Carr, diretora de "Britney vs Spears"


Diana

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Projeto RED.

Por meses, esse é o codinome que os fãs de Britney Spears usaram para se referir a um documentário secreto sobre a estrela pop que acreditava-se estar sendo feito pela Netflix. O boato começou depois que a artista começou a fazer referências vagas no Instagram usando a frase, muitas vezes postando imagens com o tema vermelho de roupas coloridas ou flores. Vermelho, é claro, é a cor do logotipo da Netflix - daí a teoria da conspiração dos fãs.

Esta semana, a teoria se tornou realidade: a Netflix confirmou que “Britney vs Spears” estreará em 28 de setembro. E embora Spears não tenha, de fato, colaborado com a cineasta Erin Lee Carr, a data de lançamento do filme coincide com um momento crucial na vida dela. A próxima audiência no seu caso da tutela está marcada para 29 de setembro - uma data do tribunal que pode determinar se o pai da artista, Jamie Spears, será removido como seu tutor legal.

“Britney vs Spears” não é o primeiro documentário a investigar as circunstâncias de Spears. Em fevereiro, um doc produzido pelo New York Times, “Framing Britney Spears”, estreou no FX e no Hulu.

Dando uma olhada crítica no tratamento que a mídia deu a Spears durante o auge de sua fama, o lançamento fez com que a frase "Sentimos muito, Britney" fosse para os trending topics no Twitter. Justin Timberlake, que namorou Spears de 1999 a 2002, postou um pedido público de desculpas para “assumir a responsabilidade” pela forma como tratou sua ex-namorada.

O filme também forçou Carr a reformular "Britney vs Spears", o projeto que ela passou dois anos e meio desenvolvendo. Carr tem experiência em assuntos de grande interesse: ela dirigiu filmes sobre Gypsy Rose Blanchard, Michelle Carter e o escândalo da ginástica nos EUA. (O último documentário, que foi ao ar na HBO em 2019, foi o primeiro de dois filmes sobre as vítimas de Larry Nassar; um outro feito pela Netflix veio um ano depois.)

Mesmo assim, Carr diz que nunca trabalhou em algo tão aguardado como "Britney vs Spears".

“As pessoas vasculharam meu Twitter e viram que em 2018 eu havia postado o autógrafo dela. Alguém fez uma leitura de tarô sobre o que o documentário da Netflix seria”, disse a mulher de 39 anos, que se juntou à veterana da Rolling Stone Jenny Eliscu para ajudá-la a falar sobre Spears. “Eu fiquei tipo ‘Isso é outro nível''. Você pode se perder dentro do caos da história, mas no centro dela está essa pessoa tentando obter sua própria liberdade de volta tanto publicamente quanto de forma privada.”

Em uma entrevista para o The Times, Carr discutiu a dificuldade de convencer as fontes a falar sobre Spears, como ela se sente sobre a própria cantora assistindo ao filme e a perspectiva de a tutela finalmente chegar ao fim.

O que inicialmente te interessou em tentar contar a história de Britney Spears?

Como uma cineasta que faz filmes sobre mulheres, Britney Spears é uma das grandes histórias. Ela é um ícone e uma pessoa célebre, mas acabou tendo os mesmos direitos legais de uma menor de idade. Era apenas um mistério enorme do que havia acontecido com essa pessoa realmente boa. Então, eu muito ingenuamente disse: "Bem, talvez eu consiga descobrir." Liguei para um insider da indústria no início, e a pessoa disse: “Ah, boa sorte para conseguir que alguém fale sobre. Não vai rolar. Essa é uma história que todo mundo evita falar.”

Isso só fez você querer fazer mais o filme?

Não! Lembro-me de ter entrado em pânico. As pessoas pensam que todo mundo na vida da Britney está tentando conseguir seus cinco minutos de fama, e isso não poderia estar mais longe da verdade. As pessoas não querem retornar suas ligações. Algumas das pessoas que eu realmente queria que falassem e que não haviam falado antes - elas disseram, "Absolutamente não" ou simplesmente não responderam. Já fiz coisas sem acesso antes, mas você precisa de outras pessoas se não tiver acesso à pessoa principal. E Britney, na época, nunca havia falado sobre a tutela.

E você sabia que nunca conseguiria uma entrevista dela.

Sempre esperei e sonhei, desejei e rezei aos deuses dos documentários. Tentei entrar em contato com ela repetidamente. Mas eu tive que me sentar e compreender que era improvável que isso acontecesse.

Então, o que lhe deu confiança para seguir em frente, sabendo que poucas pessoas falariam com você?

Tínhamos uma fonte ligada à tutela que começou a nos passar documentos no outono de 2020. Esta foi a primeira vez que vi o que as pessoas da tutela disseram no início. Isso me fez sentir que estava no caminho certo. Porque havia um medo avassalador: O que é isso eu não sei? Por que o sistema legal, seu pai, todos estão mantendo-a nesta tutela? E se eu estiver fazendo uma história sobre algo onde simplesmente não consigo ter acesso aos fatos certos?

Parecia que notícias sobre este caso saíam semanalmente, se não diariamente, durante o ano passado. Como isso afetou seu processo?

Nunca estive em uma história tão envolvente. Era um trabalho completo, 24 horas por dia, 7 dias por semana, e uma loucura porque a história sempre mudava. Eu achei isso incrivelmente cansativo, mas de certa forma, era como se a história estivesse finalmente desabrochando. Você olha para 2010, 2013, 2016 - nada aconteceu durante esse tempo. Ela trabalhava muito, muito mesmo, mas estava na tutela e depois com o namorado [Sam Asghari]; as coisas pareciam normais e bem. Só que isso mudou em 2019. Então, ser uma documentarista que estava acompanhando a história enquanto ela estava se desenvolvendo parecia uma oportunidade única na vida, embora eu tivesse problemas para dormir.

Quando você descobriu que “Framing Britney Spears” estava saindo, como isso mudou as coisas para você?

Como você acha que foi? [Risos] Esta é uma grande história, e foi uma ótima introdução para como a mídia tratou Britney. Acho que é algo extremamente importante que as pessoas entendam. E então para o meu filme assumir a responsabilidade da tutela enquanto Britney fala sobre  - focando menos em como ela foi tratada culturalmente, mas mais nas consequências disso.

Então você reeditou seu filme depois que o outro projeto foi lançado?

Com certeza. Eu não sabia o que estaria no filme deles. Eu sabia que havia certos assuntos em que havia uma certa sobreposição. Então, quando saiu, meu produtor Dan Cogan disse, tipo, “Beleza, se levante, mexa-se, temos que mudar o filme”. Eu estava, tipo, “Bem, meu filme apresenta os argumentos de uma maneira diferente”. E ele disse, “Agora vamos mudar de rumo”. A Netflix foi muito compreensiva e nos deu mais algum tempo.

Quais você diria que são as diferenças vitais entre o seu filme e “Framing Britney Spears”?

Este é um processo de investigação de dois anos e meio sobre a tutela. Tem havido uma cobertura incrível, mas é muito tempo para nos concentrarmos nisso. Queríamos ser o lugar definitivo para entender o começo, o meio e, com sorte, o que descobriremos como o fim dessa saga.

Se você se preocupa com mulheres, deveria assistir a este filme. Se você se preocupa com saúde mental, deveria assistir a este filme. Se você é fã de Britney Spears, deveria assistir a este filme.

A conta de Britney no Instagram tem estado muito ativa nos últimos meses. Você estava analisando as postagens dela em busca de pistas sobre seu estado de espírito, assim como o resto dos fãs?

Eu não sabia quem estava postando. Não parecia que poderia ser usado como um documento principal. Acho que agora vemos que ela o tem usado, por isso é muito importante olhar para isso. Os vídeos são a parte mais importante, em comparação com as legendas.

Uma coisa que notei é que Britney não "gosta" de comentários. Se o namorado dela falasse, tipo, "Ah, você é uma fofinha", ela não iria gostar do comentário. Acho que qualquer pessoa que tem uma queda por alguém sabe: "Ah, você vai gostar desse comentário."

Muitos fãs usaram as postagens dela  no IG para fazer julgamentos sobre sua saúde mental. Depois de fazer o filme, qual a sua opinião sobre como a saúde mental dela e a tutela estão conectadas?

Terei muito cuidado ao responder à pergunta porque a saúde mental é sua própria história. Meu entendimento de uma tutela é quando você não está capaz de atender a uma necessidade de lidar com suas roupas, moradia e alimentação. Quando vejo alguém fazendo uma dança realmente complexa e se apresentando em um palco ganhando milhões de dólares, essas coisas não parecem pertencer à mesma frase. Então, embora às vezes ela precise de ajuda porque sua vida tem sido realmente uma loucura, é difícil para mim pensar que esse tipo de arranjo legal seria necessário.

Mas eu nunca digo que sei ou não se Britney precisa estar em uma tutela. Eu sei que Britney precisa estar cercada de pessoas que se preocupam com ela e que ela não trabalhe quando ela não quiser trabalhar. Todos nós podemos postar o que quisermos na internet, incluindo Britney Spears.

Britney disse no Instagram que ficou “envergonhada” por “Framing Britney Spears” e chorou por duas semanas depois de assistir. Você se importa com o que ela pensa sobre o seu filme?

É algo em que [a equipe de filmagem] pensou por muito tempo e com muito empenho. Eu realmente amo as músicas dela e me preocupo com o que acontece com as mulheres no sistema judiciário. Mas ainda tinha que ser uma versão jornalística. Então, isso significava falar com todos os envolvidos, e não tentar deixar meus preceitos pessoais afetarem o que eu sentia a respeito. Trouxemos uma jornalista investigativa [Amy Herdy] que estava lá para verificar os fatos. Ela não tinha o mesmo nível de preceitos que eu, porque eu era uma fã.

Então você quer que a Britney goste desse filme?

Sim eu quero. Eu adoraria que ela gostasse. Mas não sei como é ser ela.

[Ao fazer o filme,] estava tentando não ser outra pessoa para invadir sua privacidade repetidamente. Mas ela quer sair da tutela, portanto, devemos saber o que está acontecendo dentro dela. Eu tomei especificamente a decisão criativa de não utilizar as mesmas imagens que ela disse antes de ser traumatizante. Os incidentes que aconteceram em 2007 durante um dos episódios no hospital - você nunca vai ver essas imagens aqui.

Você acha que ela sabe que o filme existe?

Sim. Enviei uma carta para ela e tenho motivos para acreditar que ela foi capaz de lê-la. Acho que ela está se concentrando em seu novo namorado.

Depois de tudo que você aprendeu sobre a tutela dela, você acha que o fim está realmente à vista?

É tão incrivelmente difícil sair de uma tutela, especificamente a Britney, porque ela não quer ser avaliada [clinicamente]. Pela letra da lei, você deve ser avaliado para encerrar uma tutela. Então, tem havido momentos em que é tipo, "Jamie pretende se demitir" - mas eu tenho que lembrar às pessoas que ele ainda é seu tutor. Não é feito até que seja feito.

Fonte: https://www.latimes.com/entertainment-arts/movies/story/2021-09-22/britney-vs-spears-documentary-netflix-erin-lee-carr
Tradução: Diana, fórum Rebellion. Se republicar, credite.

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"Liguei para um insider da indústria no início, e a pessoa disse: “Ah, boa sorte para conseguir que alguém fale sobre. Não vai rolar. Essa é uma história que todo mundo evita falar.”

É bem aquilo que a Cher comentou sobre a galera lá em Vegas: todo mundo sabia que algo rolava ali no caso da Britney que não era legal, que era estranho e guardado a sete chaves, e todo mundo evitava comentar. E que até nós fãs sabíamos ou desconfiávamos, porque afinal, conhecemos a Britney de antes e a de depois da curatela, não somos bobos. Mas a gente ainda sofria alguma manipulação com lançamentos de singles, clipes, álbuns, performances e shows pra que a gente não tivesse tempo de pensar nessa sujeirada toda.

Se a Britney fosse brasileira, Leo Dias teria vazado há anos os bastidores do mundinho pantanoso e fantasioso da curatela da Britney -n

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