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[Artigo] A entrevista com Britney que nunca deveria ter existido


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De antemão já aviso que é um texto longo.

Este é um artigo publicado em Maio de 2018 por um portal argentino, eu traduzi e adaptei para melhor entendimento, a postagem original pode ser acessada aqui.

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(juntei nessa imagem algumas das chamadas mais sensacionalistas que datam dentre 2005-2007)

 

 

A ENTREVISTA COM BRITNEY SPEARS EM 2006
QUE NUNCA DEVERIA TER EXISTIDO

 

Durante los primeros años de su primer hijo, todo el mundo parecía tener una opinión sobre su vida

Durante os primeiros anos de seu primeiro filho,
todo mundo parecia ter uma opinião sobre sua vida.

 

Sexta à noite. Estávamos tomando um vinho quando meu primo indaga: "Você viu a entrevista que fizeram com Britney Spears em 2006?". A pergunta me pareceu estranha, afinal, já se passaram doze anos, e o que teria Britney dito de tão interessante para virar o assunto de uma noite de sexta?


Antes de continuar lendo a nota, recomendo que você assista ao vídeo. Pode não assistir, é claro, mas perderá a estranha e grata sensação de ser contra tudo isso que acontecia há doze anos e que, embora tenhamos visto, nunca percebemos.


Eu não sou particularmente fã de Britney, mas sim, eu sou uma feminista e, no meio da entrevista, comecei a chorar quando ela tentou, com dificuldade e desconforto, responder por que estava tão difícil perder peso.


Depois de ver os quarenta minutos da entrevista, pensei "Eu tenho que fazer algo com isso porque resume muito o que acontece com as mulheres por serem mulheres neste mundo". Note que Britney tinha apenas 23 anos e foi questionada por ser uma "péssima mãe", ela foi chamada de incompetente por não conseguir perder peso e de prostituta por deitar-se com um homem que era casado. Tudo isso em um dos canais mais importantes do seu país.

 

QUANDO A HISTORINHA "NÃO CAI BEM"

Para entender o fenômeno Britney, falei com Martín "Galán" D'Agosto, músico e fã de longa data da cantora. Ele me explicou o contexto, por que Britney pediu a entrevista? "Ela precisou sair e falar pois a situação estava fora de controle, a mídia havia se tornado tão presente em sua vida pessoal que, quando seu filho bateu a cabeça em casa e ela o levou ao médico (como qualquer mãe faria), os médicos, com base em sua imagem pública, ligaram para os Serviços Sociais para que a investigassem.
Foram até sua casa e verificaram se ela era uma mãe apta, ela, eu acho que tarde demais, decidiu que precisava frear essa situação enfrentando cara a cara, talvez meio que forçada por sua equipe, porque na entrevista podemos notar o quão enojada ela está, como está farta por ter de responder perguntas tão sensacionalistas e misóginas, tendo que justificar o posto glorioso em que foi posta, sendo que é apenas uma mulher e não o "exemplo de mulher americana", detalha.
Acontece que Britney deixou de ser uma garotinha doce e inocente da Disney para uma adolescente com tudo o que isso implica. Sentindo vontade de sair, aproveitar, se exceder, apanhar e aprender com os erros. O que acontece é que, quando ela quis fazer isso, percebeu que tinha toda a sociedade norte americana (e mundial, convenhamos) a observando fixamente, com pouquíssimo espaço para ser livre.

 

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Lembre-se também que ela foi introduzida à indústria da música como uma jovem ingênua trajando um uniforme escolar, que era, inclusive, muito sensual. "Sua imagem, desde o início, é a dupla moral de uma sociedade perversa, que a quer santa e submissa, vendo-a no uniforme da escola, mas também querendo-a a mostrar sua barriga, sendo sempre a menor de idade um pouco sexy, mas não sexy demais, para não se sentir segura e dona da própria sexualidade, porque os donos de sua sexualidade somos nós, o público que consome, e os homens e empresários que a administram", diz D'Agosto.


A cantora estava noiva de Justin Timberlake, então se separaram, ela se casou em Las Vegas com um amigo, pediu divórcio em 55 horas, beijou Madonna no MTV Video Music Awards e foi fotografada bêbada ou em festas, sendo registrada cada vez que bebia ou saia de uma boate. Jamais conseguia se afastar das câmeras.


Em 2005, Britney foi mãe pela primeira vez e tudo ficou mais complicado. A mídia continuou a persegui-la e julgá-la permanentemente e, o que já estava fora de controle, acabou descarrilando.

Na entrevista, Britney tinha 23 anos, e torno a repetir o fato porque me parece assustador o nível de exposição e as exigências sobre ela nessa idade. "Eu sou uma boa mãe", ela disse. E repetiu várias vezes olhando para a câmera com os olhos cheios de lágrimas. Com integridade, ela respondeu um a um, todos os violentos questionamentos que o jornalista Matt Lauer fez a ela, sendo ele recentemente quem foi denunciado por assédio sexual por suas colegas de trabalho.

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A MULHER PÚBLICA

Existe uma premissa social sinistra que indica que nós mulheres, quando somos mães, somos também públicas. Desde o debate a favor ou contra o aborto legal, até o cuidado com as criaturinhas que trazemos para este mundo. Ainda há nossa barriga, que estranhos ou conhecidos tocam sem pedir. Mas eles não tocam uma barriga qualquer, é NOSSA barriga, mesmo que o mundo acredite e persista em nos fazer acreditar que não seja.

Marina Sánchez de Bustamante é pesquisadora de doutorado no Instituto de Pesquisa Gino Germani da Faculdade de Ciências Sociais da UBA e estuda as maneiras as quais a cultura das massas apresenta a maternidade. "As mulheres mães, sejam ou não famosas, são continuamente avaliadas em relação à forma a qual devem exercer o papel materno. Estamos sujeitas a julgamentos sobre todas as práticas que tem a ver com o cuidado da criança: Por exemplo, a forma que os alimentamos, como lidamos com seu descanso, como lidamos com sua educação. Fundamentalmente, todo o tempo que dedicamos a atender às diversas necessidades dos bebês e crianças. Isto não é novo. A historiadora francesa, Yvonne Knibielher, disse que a cultura ocidental -a partir do pensamento iluminista- cimentou a "invenção da boa mãe", ligando a capacidade reprodutiva das mulheres a uma série de valores morais, como ternura e amor ", explica ela.

A filosofa Simone de Beauvoir argumentou em seu livro, "O Segundo Sexo", que "cada corpo feminino é adaptado para o trabalho penoso da maternidade", e embora ela o tenha escrito em 1949, o ator Facundo Arana reafirmou-o agora. Nessa mesma linha, a pesquisadora sustenta que ser mãe é uma construção cultural que condensa, a partir de discursos e práticas sociais, um imaginário complexo, que por sua vez causa efeitos do gênero. "No momento em que atribuem às mulheres certas qualidades, como ser amorosa, sensível, devota; Quando as veem como uma necessidade natural com suas funções reprodutivas, as colocando no papel onde precisam assumir a plena responsabilidade para com os filhos, tendem a definir e impor os limites do que é a maternidade ", indica.

A imagem que se tem da Britney hoje é a de uma mulher que sobreviveu a mídia e a uma sociedade que foi (e ainda é) cruel com ela, que questionou (e continua a questionar) tudo o que ela fez desde que ela é quem é. Mas Britney Spears somos todas nós. Não tentaram controlá-la apenas por ser famosa, seus grandes martírios aconteceram porque ela é mulher. Beleza, sexualidade e maternidade são os três pilares que a mantém em estado de angústia quase permanente, e que se repetem, em maior ou menor grau, em todas as mulheres do planeta.

"Britney é a clara demonstração de que é possível escapar do que o machismo quer, mas essa fuga não saiu barata. Sua independência sexual e pessoal custou-lhe a guarda de seus filhos, com toda uma sociedade considerando-a uma pessoa incapaz de criá-los, o que imagino ser algo capaz de destruir qualquer pessoa. Lembro que, durante essa época, a mídia antecipou seu suicídio. Direta e claramente, queriam que ela se matasse. Quando ela deixou de ser uma imagem complacente para todos, quando se tornou uma mulher livre, com sua sexualidade e vida social, quando ignorou o discurso do certo e errado de acordo com aqueles que a julgavam, quando o produto adolescente estava fora de controle, então decidiram matá-la" D'Agosto explica.

 

SER MÃE 12 ANOS DEPOIS

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Nesse sentido, Sanchez de Bustamante também concorda que Britney, por conseguir apagar seu rótulo de menina inocente, pagou o preço. "Seu perfil provocativo, seu estilo jovem rebelde e disruptivo que lhe permitiu ganhar seu lugar na indústria da música, encontrou um limite quando ela não incorporou os códigos de vigilância necessário para a sua imagem e reputação materna. E isso foi reverberado pelos programas de fofocas americanos que, além do retorno financeiro que fornecem com os barracos das celebridades, articularam a divisão simbólica da boa contra a péssima maternidade, construindo assim uma trama narrativa poderosa que é baseada no pânico cultural que despertam as mães incompetentes: enquanto algumas meninas rebeldes se tornaram mães exemplares, como Angelina Jolie, a quem a imprensa apelidou de 'Mãegelina' para enfatizar seu compromisso pessoal mas também social com a boa maternidade (já que além dos filhos biológicos, adotou crianças refugiadas), Britney Spears foi apelidada de "incapacitadaney' para enfatizar que seus comportamentos impróprios a excluem do que pode ser aceito socialmente de uma mãe apropriada".

Mas as coisas mudaram muito. Esse modelo consolidado na representação do que é ser mãe, hoje, enfrenta outras histórias e outras realidades que o deixam em xeque. "Os relatos sobre a vida materna das famosas estão interpondo-se as tensões ligadas as experiências que -mesmo não sendo necessariamente novas- agora podem ter visibilidade e serem abertamente compartilhadas. Por exemplo, a decisão pela mono maternidade que tomou Juana Repetto (atriz, comediante e dançarina argentina). A maternidade tardia, como no caso de Maria Fernanda Callejon (atriz de cinema, teatro, televisão e vedete argentina). A maternidade que discute as prescrições médicas sobre as formas de reprodução e modos de parto, como nos relatos de Paula Chaves" (modelo, atriz e apresentadora argentina), conclui a pesquisadora.

Tenho certeza que, se eu assisti essa entrevista na época, nada disso teria me chamado a atenção. Mas doze anos mais tarde, com o feminismo instaurando-se cada vez mais em nossa leitura de mundo, aqueles quarenta minutos são uma tortura com um grau de violência psicológica e machista gigante, digo que hoje essa entrevista nem sequer iria ao ar. As mães, além de mães, são mulheres, e nós mulheres somos, incomodamente, cada vez mais protagonistas da nossa História. Hoje, felizmente, Britney está um pouco mais segura.

 

Por: Paula Giménez

Tradução e adaptação: caesaruniverse

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Britney é uma fênix , uma.sobrevivente desse sociedade machista e hipócrita que é a sociedade americana , felizmente o mundo mudou muito , por isso da importância de se debater causas sociais as chamadas militâncias que muitos chamam de " Mimimi " , que são essênciais para desconstruir todo esse movimento conservador , a sociedade mudou graças a isso , se a mentalidade do mundo hoje fosse naquela época , ela não teria sido julgada e perseguir a da forma que foi , ela só queria ser ela viver da forma dela e ser mãe como qualquer mulher quer , fico feliz por ela é admiro ela muito por ser quem ela é e nunca se rebaixar aos padrões dessa sociedade hipócrita .

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"A imagem que se tem da Britney hoje é a de uma mulher que sobreviveu a mídia e a uma sociedade que foi (e ainda é) cruel com ela, que questionou (e continua a questionar) tudo o que ela fez desde que ela é quem é."
 

Só disse verdades! O problema é que as pessoas querem sempre mais dela e nunca acham que é o suficiente. Questionam sua habilidade de dançar, de cantar, de ser uma artista! Sem falar da aparência, até hoje ela é muito julgada. As pessoas pensam que sabem que é melhor pra ela, carreira dela, inclusive a aparencia. Hoje eu entendo cada vez mais o pq dela ser mais reservada com vida ou com a carreira, de querer ter uma vida mais estável e tranquila. Eu tenho tanto orgulho da pessoa, da artista que ela é. Ela sempre defendeu muitas causas, mesmo quando não era discutido sobre, e sempre foi e ainda é de uma forma muito natural. Pena que ela pagou preço bem alto por isso, quando eu li o nome do tópico me veio na cabeça essa entrevista, eu acho a mais triste que ela já deu. Mas hoje ela vive a vida como ela quer, uma vida bem mais tranquila, tá com seus filhos, tem sua liberdade , e que bom que seja assim pq ela merece!

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3 horas atrás, Leo Mendonza disse:

Engraçado pensar em como a Britney sempre se mostrou um simbolo poderoso de feminismo mesmo quando eu mal entendia do que o feminismo se tratava. Ela é um símbolo de resistência. Perdeu o posto de estrela mundial quando decidiu que viveria a vida como queria, mas ganhou a liberdade de ser quem quer ser.
Ícone!

Concordo com tudo, menos que ela perdeu o posto de estrela mundial. Ela pode ter menos exposição do que tinha antes, até por escolha dela, mas perder esse posto? Jamais! Afinal, quem não sabe quem é Britney Spears né?

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A Britney surgiu num momento em que certas questões não eram tão discutidas, a sexualidade feminina ainda era vista com certos preconceitos. Todo o lance dela virar chacota por ter "mentido" sobre a virgindade... não levaram em conta a idade da garota, imagina uma adolescente dizer pro mundo que não é mais virgem? Isso no final dos anos 90 começo dos 2000, todo mundo tinha outra cabeça.

A fama avassaladora dela meio que dava brecha pras pessoas julgarem, queriam ver os podres e como tentar quebrar aquela imagem perfeita que tinha.

As coisas mudaram bastante sim, mas vejo pouca empatia com relação a Britney especificamente até hoje. Vários a vêem como a branca loira privilegiada, que subiu na carreira às custas de outros e "surtou" pra chamar atenção. Fiquei chocado com um texto de uma feminista pro aniversário de 20 anos de BOMT, ela basicamente disse que Britney foi toda moldada por homens e que não tinha contribuição para o próprio sucesso, e ainda citou o  JT como exemplo de artistas que evoluíram.

Já vi várias feministas gongarem a Britney ou tirarem sarro dela, mas defendem as outras artistas com unhas e dentes. Militância seletiva é de uma podridão quase tão grave quanto o preconceito. Pq com ela está liberado avacalhar?

A Britney não fala de política e não se manifesta tanto sobre questões sociais, mas isso não a fez menor que as outras. Infelizmente hoje em dia as pessoas compram discursos prontos, a grande maioria dos artistas já sabem q falar e usar de minorias geram cliques e popularidade, a falsidade te faz ser querido pq apesar das mudanças a alienação se intensificou.

Britney é um ícone feminista sim!

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Li a reportagem, mas nao tive coragem de assisti ao vídeo. Na verdade quando se trata de fotos e vídeos de 2006-07 eu sou bastante seletivo, apesar de fazer tantos anos não consigo assisti certas coisas que a Brit passou naquela época.

Eu entendo, quando leio reportagem assim, o por quê da Britney não querer mais estar nos holofotes da indústria. Somos moldados pelas as situações que nos acontecem e, apesar de fazer mais de uma década o que aconteceu com a Brit, acredito que há marcas muito permanentes nela ainda. Enfim, Brit é e sempre será um símbolo de superação.

Amo e quero o melhor para ela. Oro sempre por ela e a família dela.

 

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