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A Britney Geográfica.


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Britney Spears e a (Des)Construção do Espaço Cultural

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É inegável a influência da cultura popular difundida no século XX na transformação dos espaços no mundo Ocidental, principalmente.¹ Claro, afinal de contas, a cultura popular, junto da ascensão das técnicas de Comunicação Social e do surgimento da mídia de massa, o Sistema Capitalista imprimiu sua identidade não só no espaço-tempo como na cultura popular. Entende-se aqui como cultura popular toda e qualquer manifestação cultural transformada por meios industriais e que é consumida pela massa, porém não produzida por ela. Cinema, música, fotografia, entre outras formas de arte receberam a impressão digital do capitalismo em suas renovações ao longo do tempo. Mas venho tratar, aqui, de um fator mais específico, que é o espaço cultural.

Uma das maiores figuras públicas da história da cultura popular norte-americana², a cantora Britney Spears é um exemplo vivo e prático do que venho ilustrar aqui. Aliás, eu espero que quem esteja lendo este texto tenha uma base sólida sobre como a cultura está organizada no espaço geográfico mundial, principalmente a famosa dicotomia cultural Ocidente-Oriente.

Britney Spears já vendeu mais de cem milhões de discos ao redor do globo, o que nos remonta àquela nossa velha expressão do liberalismo econômico – Globalização. Apesar de Britney Spears ser símbolo cultural de uma nação em particular – os Estados Unidos da América -, seu trabalho é reconhecido e consumido por pessoas de todas as partes da Terra. Ora, somente isso já nos basta como evidência de que os fatores culturais locais estão sendo afetados ao redor do mundo por fatores culturais denominados como “globais”. David Harvey³, em um artigo preparado para a Conference on Global and Local realizada em Londres, em Fevereiro de 2001, explicou que

É inegável que a cultura se transformou em algum gênero de mercadoria. No entanto, também há a crença muito difundida de que algo muito especial envolve os produtos e os eventos culturais (estejam eles nas artes plásticas, no teatro, na música, no cinema, na arquitetura, ou, mais amplamente, em modos localizados de vida, no patrimônio, nas memórias coletivas e nas comunhões afetivas), sendo preciso pô-los à parte das mercadorias normais, como camisas e sapatos. Talvez façamos isso porque somente conseguimos pensar a seu respeito como produtos e eventos que estão num plano mais elevado da criatividade e do sentido humano, diferente do plano das fábricas de produção de massa e do consumo de massa. No entanto, mesmo quando nos despimos de todos os resíduos de pensamento tendencioso (muitas vezes, com base em
ideologias poderosas), ainda assim continuamos considerando como muito especiais esses produtos designados como “culturais”.

Harvey, então, nos diz que é inegável a influência dos meios de produção da nossa sociedade contemporânea sobre a produção cultural do homem atualmente, e ele se refere a isso como “a globalização e a transformação da cultura em commodities” (Harvey, Spaces of Capital: Towards a Critial Geography, 2001, p. 219). Ora, é importante levarmos isso em consideração para compreendermos a linha de raciocínio a ser desenvolvida a seguir.

Posto isso, passemos a considerar não somente a imagem e a influência da cantora em si, mas também seu trabalho e seu produto. Aqui não levemos em consideração apenas suas músicas, mas sim todo o conjunto produzido ao longo de sua carreira. Aliemos a isso, então, a influência do modo capitalista de produção sobre a produção cultural citada por Harvey. Ora, se o capital tende a organizar e a reorganizar o espaço geográfico, é evidente que uma simples cantora de música popular constrói, destrói e reconstrói o espaço geográfico de qualquer local do mundo. Nesse caso específico aqui tratado, do espaço cultural.

Um exemplo perfeito para ilustrarmos tudo isso recém-falado acerca do espaço cultural é o fato de Britney Spears ser uma das poucas personalidades femininas ocidentais a poder mostrar seu rosto completamente descoberto e com maquilagens em propagandas por cidades de países teocráticos do Oriente Médio. É evidente que, ao permitir isso4, há uma desconstrução do espaço cultural de tal localidade. E esse é só um dos vários exemplos práticos que podemos citar aqui. E o interessante é que nem toda e qualquer personalidade global consegue tal desconstrução de forma efetiva ou sem ao menos encontrar resistência. O caso mais recente é o da também cantora norte-americana Lady GaGa, que sofreu pressão popular por parte de religiosos da Indonésia contra a sua turnê mundial, que passaria pela capital, Jacarta. Quando há resistência, percebe-se menos efetividade de ação do capital, o que não ocorreu com Britney Spears5 ao longo de sua carreira.

É evidente o poder de atuação de uma única personalidade na transformação de espaços sociais em diversos pontos do planeta. Quando a Geografia trata de Globalização, tende a tratar a Globalização de um aspecto puramente materialista, desconsiderando as influências de produção de capital humano, e somente considerando a Globalização no sentido puramente materialista e industrial, dos meios de produção e dos capitalistas. Um exemplo simples como esse da cantora Britney Spears nos mostra como é efetiva essa transformação espacial – por mais singela que seja – que ocorre devido à transformação da cultura em capital cultural, ou commodity, para usarmos do termo de Harvey. Desconsiderar isso é desconsiderar a troca cultural que ocorre há séculos nesse mundo cada vez menor.

Artigo escrito pelo estudante em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Othon Silva, em 21 de Maio de 2012.
1 Aqui eu desconsidero a cultura popular Oriental, forte no processo de inserção ao Capitalismo de nações tradicionais como o Japão e a Coreia do Sul, mas não, obviamente, nego a sua existência. Apenas não é importante considerar isso nesse momento.
2 E mundial.
3 David Harvey (Gillingham, Kent, 7 de dezembro de 1935) é um geógrafo marxista britânico, formado na Universidade de Cambridge. É professor da City University of New York e trabalha com diversas questões ligadas à geografia urbana.
4 Consideremos isso como uma exceção à regra.
5 Ao menos no Exterior, pois em seu país de origem houve um conflito de relação de imagem e semelhança que causou crise nacional de identidade no período de 2006-2007, o que não convém tratarmos aqui.
QUERO MUITAS TESES DE DOUTORADOg6.gifg6.gif
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